terça-feira, 3 de agosto de 2010

A Arca da Aliança

8. Far-me-ão um santuário e habitarei no meio deles. 9. “Construireis o tabernáculo e todo o seu mobiliário exatamente segundo o modelo que vou mostrar-vos”. 10. “Farão uma arca de madeira de acácia; seu comprimento será de dois côvados e meio, sua largura de um côvado e meio, e sua altura de um côvado e meio. 11. Tu a recobrirás de ouro puro por dentro, e farás por fora, em volta dela, uma bordadura de ouro. 12. Fundirás para a arca quatro argolas de ouro, que porás nos seus quatro pés, duas de um lado e duas de outro. 13. Farás dois varais de madeira de acácia, revestidos de ouro, 14. Que passarás nas argolas fixadas dos lados da arca, para se poder transportá-la. 15. Uma vez passados os varais nas argolas, delas não serão mais removidos. 16. Porás na arca o testemunho que eu te der. 17. Farás também uma tampa de ouro puro, cujo comprimento será de dois côvados e meio, e a largura de um côvado e meio. 18. Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, 19. fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. 20. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada.
21. Colocarás a tampa sobre a arca e porás dentro da arca o testemunho que eu te der. 22. Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas.”

Nossa procura por Preste João continua pela Etiópia, a história dele mistura-se com a de um objeto considerado sagrado, a arca da aliança, nosso guia é Senelique Bonono e ele explica que em todas as igrejas ortodoxas etíopes, ou seja, cerca de trinta mil igrejas, possuem réplicas da arca da aliança, que foi um presente de Salomão para, Menelike, filho do rei com a rainha de Sabá, os etíopes crêem que a arca verdadeira está em poder deles, para iniciar nossas investigações iremos para um dos mosteiros mais antigos da Etiópia, Debre Damo, na antiga terra bíblica de Ophir.

A Etiópia é um dos mais antigos países cristãos em África com uma forte ligação com o Oriente Médio e, Debre Damo é a fonte que guarda os mais antigos manuscritos cristãos, mas para chegar até lá não será fácil, pois o mosteiro fica no alto de uma colina e o acesso só se faz por meio de cordas o Professor Augusto fica angustiado com esse detalhe, e Senelique explica que é o único modo de conseguir atingir o mosteiro que todos os monges sobem através de cordas e só os homens tem acesso ao local e inclusive os animais que são levados são todos machos.

Percorremos estradas poeirentas que desembocam no norte da Etiópia quando chegamos próximo ao local Senelique pára o veículo e nos aponta a colina que possui topo achatado, Debre Damo, fica a dezesseis quilômetros da estrada principal numa rua de terra, atravessamos um riacho que se encontra quase seco nosso guia explica que na época das chuvas a travessia só seria possível por barco, olho e fico admirado com a natureza, muito parecida com minha terra natal Arg-e-Bam.

Senelique explica também que passaremos a noite no mosteiro porque os ladrões atacam quando escurece, minha ansiedade aumenta ainda mais, o carro pára em frente a um íngreme rochedo, depois de um longo caminho, finalmente, chegamos agora precisamos nos preparar para a escalada num sistema antigo e rústico de cordas, primeiramente tentamos calçados, mas depois de várias infrutíferas tentativas, constatamos que o melhor modo seria descalço e subimos difícil e lentamente, conseguimos imaginar a loucura diária que os monges dos mais jovens aos mais velhos estão sujeitos. Após a escalada procuramos um local para acamparmos, Senelique explicou que era um grande privilégio podermos acampar naquele local sagrado.

No outro dia nos encontramos com o guardião dos pergaminhos ao qual após um breve interrogatório, deixa-nos adentrar a câmara onde os manuscritos estão guardados há séculos, adentrar ali era respirar a história, reviver e sentir cada momento passado como único e indescritível.

—Hafiz, meu pequeno deixe as formigas em paz e venha até aqui quero mostrar-lhe algo que acontece no horizonte. – largo em disparada em direção de meu pai, momentos raros, pois sempre estava viajando, aponta-me algo indistinto no horizonte, após um esforço consigo divisar três homens caminhando eles param em um determinado lugar e começam a cavar.

—O que, que eles estão fazendo papai? – pergunto.

—Eles estão guardando o que consideram ser muito importante, conhecimento, ao lado deles esta uma caixa que contém pergaminhos antigos, onde estão registrados as leis, os costumes e a religião e assim eles se mantêm como comunidade, assim o homem conseguiu civilizar-se e adquirir a habilidade de criar as nações...

Hospitalidade, o ato mais sagrado segundo meu pai que o homem tinha que demonstrar a seu semelhante não importando, a classe a qual pertencia nem suas convicções culturais e religiosas, assim meu pai dizia:

—O que nos torna plenamente humano é reconhecer a necessidade de nosso irmão, venha ele da onde vier, dessa maneira, não há como existir a guerra, sendo bem tratado o mau e bom tornam-se aliados, iguais, e coexistem em harmonia...

Nunca compreendi meu pai, até aquele momento, naquela caverna, cujo teto lembrava a abóbada de uma catedral católica, sim o conhecimento elevava o homem e por isso era sagrado, devia ser guardado e mantido como foi com o fogo antes do mesmo ser dominado, era isso, precisávamos de um método para dominar o conhecimento e recriá-lo a bel-prazer como fazíamos com fósforos e isqueiros...

O monge faz uma reverência e pega o primeiro pergaminho, desenrola-o cuidadosamente, o professor Augusto parece muito excitado coloca-se por cima do ombro do venerando monge, súbito estremece parece perceber algo e caminha até para frente, respeitosamente pede o pergaminho ao desconfiado monge que pouco-a-pouco como se perdesse um membro do próprio corpo estende o pergaminho ao professor...

A luz que projetava dentro da caverna era tênue, o pergaminho parecia translúcido, mas a visão arguta do professor tinha se fixado em um perímetro, o tempo parecia não existir, pois, não havia referências, quem sabe procurando um gotejar...

O monge olhava com uma curiosidade devocional, o professor e o pergaminho, seus pensamentos quais seriam? Deveria estar pensando que aquele homem branco, era como um macaco e com um pergaminho tão precioso, não poderia descuidar-se, pois a qualquer momento poderia danificá-lo, e ele provavelmente seria morto, pois era um guardião e pagava com a vida qualquer coisa que ocorresse com o pergaminho, essa era a tradição.

O professor, em voz alta, começa recitar o que está escrito, sua voz ganha uma ressonância magnânima devido à acústica da caverna, assim ele prossegue:

—Era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira da ARABIA FELIX, seu nome, Baltasar se traduz por “Deus manifesta o Rei”. Os reis magos, como se pretendia dizer que representavam os reis de todo o mundo, representando as três raças humanas existentes, em idades diferentes. Assim, Melquior entregou-Lhe ouro em reconhecimento da realeza; Gaspar, incenso em reconhecimento da divindade; e Baltasar, mirra em reconhecimento da humanidade.

O professor interrompe a leitura e fica pensativo, aproximo-me dele e aguardo parece uma eternidade até que o guardião pede para restituir-lhe o pergaminho o professor lhe entrega e então me olha parece estar desorientado peço-lhe para sairmos um pouco daquele ambiente claustrofóbico e caminhar-mos ao ar livre ele concorda e saímos.

—Apesar de acrescentar dados novos a nossa pesquisa os pergaminhos que aqui encontram-se referem-se a um período posterior, sinto que as informações colhidas terão valia no futuro, por hora teremos que nos basear em outra pista que seus pergaminhos indicam acerca do mito do apóstolo São Tomé, não pense que escondo-lhe algo meu caro Hafiz, mas as ramificações que a lenda de Preste João apresenta são diversas, no momento, precisamos de mais alguns dados para entender o contexto todo, compreende?

—Acho que sim professor. – respondo meio aturdido diante de tantas dúvidas, era claro que a referência a Baltazar tinha despertado alguma lembrança no professor que ele não queria dividir ainda, a mudança do foco era estranho, mas também emocionante, pois conhecia muito pouco a respeito daquele apóstolo, na verdade só conhecia o fato de sua incredulidade.

E assim agradecemos muito aos monges que tão bem nos acolheram em Debre Damo e partimos para o aeroporto, lá nos despedimos de Senelike nosso fiel guia...

Nosso destino segundo o professor era a Índia, pois lá havia um culto muito importante a figura do apóstolo São Tomé, mais uma vez entramos no avião, decolamos e visualizamos a terra ficando cada vez mais distante e as nuvens mais próximas, depois de tantas aventuras a poltrona parecia uma cama de casal e quando dei por mim já estava sonhando...