sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Prólogo

Entregue... O sentimento de impotência toma corpo, forma e substância, não preciso procurar pelo abismo, pois eis que a terra sob mim se abre.

Na minha frente o médico, o desdém, ele não crê, apenas redige, friamente... Retilineamente, última chance, a sentença é decretada, grita minha alma, agoniza em procura do êxtase que nunca chega... Perco-me a mesma frase ganha sentido:

— Hurt was my Blackbird. – encontra-se ferido, não há retorno, o desprezo, a indiferença, sem sentido viver... “A vigilância diária será um pequeno preço a pagar por minha paz de espírito...”

Antes sonhava, encontrava refúgio... Proteção... Abrigo... No espaço onírico... Na força telúrica; no momento, encontro o oceano desconhecido, o mar bravio das reações que minhas ações desencadearam, fustigam-me o rosto, arrancam-me o espírito.

Sem retorno, tudo que planejei...

Concretiza-se!

Agora neste quarto de hotel na beira de uma estrada sombria, com um revólver na mão, desejei, me entreguei... O espaço é preenchido por um trêmulo rabiscar, um incongruente escrever, num pedaço de papel qualquer, o tique-taque do relógio, é monótono, o ritmo de minha respiração, é inconstante e o pulsar de meu coração, é frenético...

Desvairado encontro-me, as palavras do sábio filósofo Ovídio são aclamadas: “Descanse, um campo que descansou oferece uma linda colheita”. Não enxergo, não cheiro, não ouço, não falo e não sinto, deixei de viver o presente, para lamentar o passado e angustiar-me com o futuro.

Sua visão se tornará clara somente quando você puder olhar dentro do seu coração, última profecia, profetiza o último profeta... Em vão busco algo para ater-me, lembro que em todo quarto de hotel existe uma bíblia no criado-mudo, procuro ensandecido por este bálsamo que pode quem sabe? Diminuir minhas feridas?

Encontro um livro com a capa rasgada pela metade onde lê-se “[...]BIRU: Caminho do céu” reflito aquele volume não estava por acaso na minha mão e, por isso, devia lê-lo afinal a diária do hotel já estava paga e uma história nova era o que precisava para esquecer da minha...

Comecei a lê-lo...

“A preocupação nunca tira a tristeza do amanhã, ela somente enfraquece a força do hoje”

A. J. Cronin[i]



[i] Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Archibald Joseph Cronin (Cardross, 19 de Julho de 1896Montreux, 6 de Janeiro de 1981) foi um escritor escocês. Era formado em Medicina. Escreveu romances idealistas de crítica social, traduzidos em vários idiomas, e alguns deles adptados ao cinema e à televisão, como The Citadel (1937) e The Minstrel Boy (1975)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Toca Raul


Pela Lei nº 6.607, de 7 de Dezembro de 1978, a Caesalpinia echinata foi declarado Árvore Nacional do Brasil, seu nome em tupi é ibira pitanga, ou "madeira vermelha", vinte anos é o tempo que dura para que essa árvore o nosso, pau-brasil, leva para atingir a maturidade...

Vinte anos é também a expectativa de vida da Panthera onca, a onça pintada nosso maior felino, predador, símbolo da agilidade e da força, e qual o motivo da importância dos vinte anos, bem lembremos que hoje faz vinte anos que um dos maiores expoentes musicais brasileiros faleceu, sim ele Raulzito e seus panteras, foi assim que surgiu o homem, no início de sua carreira um verdadeiro cometa, uma estrela cadente que nos proporcionou o que há de melhor no universo musical brasileiro.

Não podemos falar em cultura brasileira sem tocarmos no nome dele, sem pensarmos no condutor da charrete dos anos oitenta que segundo ele tinha se perdido, mas, só nos resta lembrar que ele é imortal, pois, tornou-se ele o mito, toda vez que em um bar um músico toca ao vivo ele sempre ouve:

— Toca Raul... Toca Raul... Toca Raul...

Dessa maneira, não podemos dizer que ele era simplesmente homem, pois Raul, nosso raio de Luar tornou-se mito e fez-se lenda em nossas mentes e tem lugar certo em nossos corações...

Pierre Augusto Rafael.

domingo, 16 de agosto de 2009

Gênesis

(6) Vis ejus integra est, si versa fuerit in Terram.

(7) Separabis terram ab igne, subtile a spisso, suaviter, cum magno ingenio.

(8) Ascendit a terra in cœlum, interumque descendit in terram et recipit vim superiorum et inferiorum.

(9) Sic habebis gloriam totius mundi.

(10) Ideo fugiet a te omnis obscuritas.

Alguns conseguiram escapar para Hanan Pacha[1], outros foram para Uku Pacha, e os que restaram ficaram sob os caprichos de Nguruvilú, que como não conhecia a beleza da criação começou apenas a fazer nossos irmãos sofrer e a esquecer que um dia tinham sido unos, começou paralisando alguns e os prendendo a terra, eles não poderiam mover-se por si e alimentar-se-iam de luz, feito isso transformou outros para que comessem esses primeiros e não satisfeita criou com o que restou seres mais abomináveis ainda, que se nutriam dos que se alimentavam de seus antigos irmãos estes últimos seres não tinham nenhuma piedade e eram extremamente cruéis.

Durante muitas eras nós os sobreviventes viajamos por Hanan Pacha sem destino, não sabíamos o que fazer em nossas andanças descobrimos diversos segredos, alguns de nossos poucos irmãos também se perderam ou resolveram compartilhar suas existências com outros seres dos confins do Hanan Pacha

Mas a fome insaciável do tempo que não revelou o início mordeu-se e revelou o fim, Viracocha percebeu que não tinha sido justo com Supay e suas criaturas, condenou Nguruvilú, assim como condenado tinha Supay, no lugar onde a raposa rastejante foi lançada, surgiu uma grande rocha próxima da prisão de Supay conhecida como Burringurrah, dessas montanhas pariu-se uma nova criatura, o homem. Viracocha usou suas medidas para o exterior, ou seja, o homem não teria formas desproporcionais como as antigas criaturas que já tinham antes caminhado, os seres que ficavam parados e comiam luz passaram a ser os maiores, e abaixo deles ficaram todas as outras criaturas, a mente foi dada ao homem para que ele julgasse e a imaginação seria onde os deuses apresentariam suas provas acerca do melhor se ficar com Viracocha, ou Ngurvilú. O homem tornou-se dessa forma o réu, o acusador e o juiz.

Para punir Pacha Mama, Viracocha transformou-a em uma serpente que envolveu todo o conhecido e quando encontrou o fim do infinito, essa criatura começou a devorar o que ela não sabia ser ela mesma, para ser justo Viracocha determinou que o homem e todas as outras criaturas que a partir dali, andassem sobre a terra, também sentiriam a maldição de Pacha Mama iriam sempre acabar em autofagia. Pacha Kamaq, o senhor dos vulcões refugiou-se com a raposa rastejante, Viracocha condenou-o a permanecer para sempre no interior ardente do planeta.

Dessa maneira, Supay passou a reinar ao lado de Viracocha e o Universo de novo equilibrou-se com luzes e trevas, Nguruvilú, a raposa rastejante não conformou-se e jurou acabar com os homens prometendo transformá-los todos como fez com as antigas criações de Supay, Viracocha permitiu a raposa rastejante, impor seus métodos enquanto Pacha Mama não findar o que iniciou e assim começa a vida da criatura usada para julgar, acusar e sofrer os castigos em nome dos deuses, esse ser és tu leitor, um ser divino com uma missão divina.

Nós que tínhamos escapados para Hanan Pacha não podíamos mais voltar, criamos uma rota para que o homem na terra pudesse se guiar toda vez, que a luz desaparecesse e a escuridão quisesse tudo retomar, assim surgiu o caminho das estrelas, conhecido por Via Láctea...


[1] Nota do autor: Hanan Pacha: Espaço.

domingo, 2 de agosto de 2009

PANGÉIA

(1) Verum sine mendacio, certum et verissimum:

(2) Quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius.

(3) Et sict omnes res fuerunt ab Uno, mediatione unius, sic omnes res natæ fuerunt ab hac una re, adaptatione.

(4) Pater ejus est Sol, mater ejus Luna; portavit illud Ventus in ventre suo; nutrix ejus Terra est.

(5) Pater omnes Telesmi totius mundi est hic.

Para o aprendizado e deleite do caro leitor desvendar-lhe-ei o início da vida e para isso invocarei um sobrevivente dessa época que possui muitos nomes: anchimayén[1], anchimalén, auchimalgén, auchimalguén, anchimalguén, anchimalwén, anchimalhuén ou chimalguén, ele vem de um período que a ciência denomina por éon uma palavra grega que significa: era ou força vital, nessa época ainda não existia plantas, animais e muito menos o homem a terra e a água eram apenas dois, mas deixemos que anchimalén fale por si:

— Quando era escuridão e não havia tempo, eu e fantásticas criaturas habitávamos a água, Supay[2] reinava absoluto aqui em Kay Pacha[3] e assim foi durante muitas eras, Viracocha, senhor absoluto do universo assim permitiu, mas a inveja dos irmãos de Supay como o paciente grão de areia que sozinho é pequeno, mas que junto com outros, lentamente, cobre uma montanha bem maior e mais imponente do que ele mesmo, um dia o que era um tornou-se muitos e assim fez a pequena discórdia e a grande inveja com o reinado de Supay.

Em segredo reuniram-se em Huaca de La Luna: Nguruvilú, a raposa rastejante; Pacha Mama, a insaciável senhora do tempo e Pacha Kamaq, o senhor dos vulcões, para tomar Kay Pacha de Supay. Tantas intrigas e discórdias ali criaram que as vibrações atingiram Viracocha, aquele que tudo sente, e quando ele os convocou a mostrar o que os aborrecia, desenrolaram o que haviam tecido.

Viracocha, não podia acreditar a trama tudo revelava, em Kay Pacha o senhor absoluto não era Viracocha. Supay havia esquecido de revelar às criações o verdadeiro senhor, assim o erro do olvido, eles o usaram para derrubá-lo, afirmavam que Supay queria tomar o lugar de Viracocha e não satisfeito em ficar com as trevas, que era o seu domínio, fora além e dera as suas criações à luz que pertencia a Viracocha e Inti [4].

Viracocha ficou furioso e sem permitir julgamento condenou Supay a ficar preso no interior de Kay Pacha, ele reinaria onde sempre deveria em Uku Pacha[5], não veria mais a luz e todas as criaturas que caminhassem em Kay Pacha conheceriam o peso do tempo, através de Pacha Mama, e sua insaciedade voraz.

Não teriam mais a harmonia entre si, e todas as criaturas seriam dividas; Nguruvilú raposa rastejante, traiçoeira, discórdia, cuidou de impingir discórdia entre nós dividindo o que tinha sido um, em muitos, trazendo agora a diferença antes tudo era igual.

Alguns de meus irmãos ficaram nas profundezas das águas, escondendo-se o mais profundo possível para viverem como quando Supay reinava, antes da luz e do tempo. Outros foram transformados em habitantes das águas e os que antes eram irmãos começaram a maltratar-se, o espaço na água, pequeno ficou, e meus irmãos transportados para a terra foram.

Lá alguns foram enterrados e alimentados pela luz que Supay quisera dar-lhes, quando crescidos eles oferecidos foram, para outros irmãos que agora se alimentavam de si mesmos e perdiam o senso de harmonia, regrediam, a Raposa Rastejante, não conhecia limites para sua insatisfação com as criaturas de Supay, a geração seguinte revelou ter apetite ainda mais voraz, eram os comedores de irmãos, assim a insaciedade e a voracidade reinaram em absoluto, e as criaturas cada vez mais cresciam em tamanho e selvageria.

A partir de então apenas Viracocha, o senhor supremo reinava no Absoluto. Supay foi destronado e lançado para o interior da Kay Pacha no local de sua queda ergueu-se uma grande rocha vermelha conhecida como ULURU. A terra e o mar antes eram dois apenas e não se misturavam, com a queda de Supay, a terra se quebrou e as partes lentamente distanciavam entre si para misturar com o mar.



[1] Nota do autor: O anchimallén é descrito como um ser pequeno, que se transforma numa esfera que emite uma luminosidade radiante, como se fosse uma centelha.

[2] Nota do autor: Supay: Deus das trevas

[3] Nota do autor: Kay Pacha: Mundo terreno

[4] Nota do autor: Inti: Deus Sol.

[5] Nota do autor: Uku Pacha: Mundo dos Mortos.