domingo, 2 de agosto de 2009

PANGÉIA

(1) Verum sine mendacio, certum et verissimum:

(2) Quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius.

(3) Et sict omnes res fuerunt ab Uno, mediatione unius, sic omnes res natæ fuerunt ab hac una re, adaptatione.

(4) Pater ejus est Sol, mater ejus Luna; portavit illud Ventus in ventre suo; nutrix ejus Terra est.

(5) Pater omnes Telesmi totius mundi est hic.

Para o aprendizado e deleite do caro leitor desvendar-lhe-ei o início da vida e para isso invocarei um sobrevivente dessa época que possui muitos nomes: anchimayén[1], anchimalén, auchimalgén, auchimalguén, anchimalguén, anchimalwén, anchimalhuén ou chimalguén, ele vem de um período que a ciência denomina por éon uma palavra grega que significa: era ou força vital, nessa época ainda não existia plantas, animais e muito menos o homem a terra e a água eram apenas dois, mas deixemos que anchimalén fale por si:

— Quando era escuridão e não havia tempo, eu e fantásticas criaturas habitávamos a água, Supay[2] reinava absoluto aqui em Kay Pacha[3] e assim foi durante muitas eras, Viracocha, senhor absoluto do universo assim permitiu, mas a inveja dos irmãos de Supay como o paciente grão de areia que sozinho é pequeno, mas que junto com outros, lentamente, cobre uma montanha bem maior e mais imponente do que ele mesmo, um dia o que era um tornou-se muitos e assim fez a pequena discórdia e a grande inveja com o reinado de Supay.

Em segredo reuniram-se em Huaca de La Luna: Nguruvilú, a raposa rastejante; Pacha Mama, a insaciável senhora do tempo e Pacha Kamaq, o senhor dos vulcões, para tomar Kay Pacha de Supay. Tantas intrigas e discórdias ali criaram que as vibrações atingiram Viracocha, aquele que tudo sente, e quando ele os convocou a mostrar o que os aborrecia, desenrolaram o que haviam tecido.

Viracocha, não podia acreditar a trama tudo revelava, em Kay Pacha o senhor absoluto não era Viracocha. Supay havia esquecido de revelar às criações o verdadeiro senhor, assim o erro do olvido, eles o usaram para derrubá-lo, afirmavam que Supay queria tomar o lugar de Viracocha e não satisfeito em ficar com as trevas, que era o seu domínio, fora além e dera as suas criações à luz que pertencia a Viracocha e Inti [4].

Viracocha ficou furioso e sem permitir julgamento condenou Supay a ficar preso no interior de Kay Pacha, ele reinaria onde sempre deveria em Uku Pacha[5], não veria mais a luz e todas as criaturas que caminhassem em Kay Pacha conheceriam o peso do tempo, através de Pacha Mama, e sua insaciedade voraz.

Não teriam mais a harmonia entre si, e todas as criaturas seriam dividas; Nguruvilú raposa rastejante, traiçoeira, discórdia, cuidou de impingir discórdia entre nós dividindo o que tinha sido um, em muitos, trazendo agora a diferença antes tudo era igual.

Alguns de meus irmãos ficaram nas profundezas das águas, escondendo-se o mais profundo possível para viverem como quando Supay reinava, antes da luz e do tempo. Outros foram transformados em habitantes das águas e os que antes eram irmãos começaram a maltratar-se, o espaço na água, pequeno ficou, e meus irmãos transportados para a terra foram.

Lá alguns foram enterrados e alimentados pela luz que Supay quisera dar-lhes, quando crescidos eles oferecidos foram, para outros irmãos que agora se alimentavam de si mesmos e perdiam o senso de harmonia, regrediam, a Raposa Rastejante, não conhecia limites para sua insatisfação com as criaturas de Supay, a geração seguinte revelou ter apetite ainda mais voraz, eram os comedores de irmãos, assim a insaciedade e a voracidade reinaram em absoluto, e as criaturas cada vez mais cresciam em tamanho e selvageria.

A partir de então apenas Viracocha, o senhor supremo reinava no Absoluto. Supay foi destronado e lançado para o interior da Kay Pacha no local de sua queda ergueu-se uma grande rocha vermelha conhecida como ULURU. A terra e o mar antes eram dois apenas e não se misturavam, com a queda de Supay, a terra se quebrou e as partes lentamente distanciavam entre si para misturar com o mar.



[1] Nota do autor: O anchimallén é descrito como um ser pequeno, que se transforma numa esfera que emite uma luminosidade radiante, como se fosse uma centelha.

[2] Nota do autor: Supay: Deus das trevas

[3] Nota do autor: Kay Pacha: Mundo terreno

[4] Nota do autor: Inti: Deus Sol.

[5] Nota do autor: Uku Pacha: Mundo dos Mortos.

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