segunda-feira, 31 de maio de 2010

Chamamento

33. Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo. 34. O sal é uma coisa boa, mas se ele perder o seu sabor, com que o recuperará? 35. Não servirá nem para a terra nem para adubo, mas lançar-se-á fora. O que tem ouvidos para ouvir, ouça! (Lucas, 14:31-35.)


Vagando, tudo que recordo é o desabrochar da Rosa-Aurora ou quem sabe o flamejar da Destruição:

Quem sou?

Para onde vou?

O que fiz?

O que terei que fazer?

Pensamentos chocam-se em minha mente, vejo o brilho da salvação? Ou da danação? Mergulhado em angústias lanço-me, aceito o destino, como será minha natureza?

Doentia como o avaro que só no vil metal sente satisfação, ou esperançosa como a do náufrago, que na escuridão crê ter visto lampejos de um farol...

O chamamento, aquele som, quase imperceptível, a última melodia, o que resta é andar, resignado continuo meu caminho, só tenho a percepção de caminhar e assim continuo...

Qual será a pior das prisões? A solitária cova, a comunhão da vala, ou não ter direção, referência, marco, nada familiar, tudo igual, a vastidão, estou perdido...

Algo irá acontecer, percebo a mudança de tom ao meu redor, constatação que me angustia, fato este que amplificará minha visão ou cegar-me-á definitivamente, caminhar sem ver a vastidão do espaço, será minha punição...

A audição é fraca e tudo se desloca, subitamente, paro, estaciono em algo que não consigo tocar, nem ver, mais uma vez perdido, começo a chorar, um choro fino, triste, sofro, o corpo encolhe-se e começa a vibrar, de repente um som que já conheço...

— Vamos mais para frente, vem sua preguiçosa. – disse Thermuthis para sua pajem. O sol jamais tinha visto aquela rara beleza nua, pois, Thermuthis tomava apenas banhos de Lua, para não enlouquecer os homens com sua beleza, banhava-se apenas a noite na companhia de suas pajens.

— O choro vem daqui de algum lugar! Ali há um cesto, o que será que contém. – ao aproximar-se do cesto, ela viu a imagem mais bonita que já tinha depositado os olhos, nenhuma jóia de seu pai, ou de sua mãe rivalizava-se em beleza com a maravilha contida no cesto, presente dos deuses, nem o próprio Nilo, a maior jóia do Egito, podia rivalizar-se com tal milagre, nem a planta ou a folha de papyro desenhado pelo mais habilidoso dos escribas, comparava-se com aquela frágil criaturinha, encolhida, chorando...

Seu instinto foi confortá-lo com um abraço, retribuído, desesperadamente, ternamente, enfim ela encontrou o que procurava, a felicidade bafejara-lhe o rosto, enfim conseguira preencher aquele vazio que a atormentava.

Essa estória ecoa em minha mente, não há como evitar, por isso entrego-me e assim, sou moldado, lapidado, forjado... — Não precisa deste sacrifício, meu filho. – diz-me, Ele, docemente.

— Faço questão – exijo. O golpe é certeiro, não sinto nada além do que deveria. — Nossa aliança está selada, em meu nome proclamarás, por ti verão minha glória, minha justiça e lealdade, em troca terão apenas que seguir a justa medida, o reto caminho e a bondade. – o chamamento, o sacrifício e a redenção. Lançar-te-ei por tempos, terras e pessoas desconhecidas que poderão não entende-lo e chegarão muitas vezes o machucar, lembre-se ao seu lado sempre estarei e tua alegria assim como tua tristeza será minha.

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