quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Carta

A vida humana é como um rio que corre sem cessar, uma corrente de água que não pode parar, que não se detém jamais. A ação é necessária sempre. Tudo está em movimento permanente e o homem tem que seguir essa lei natural, a lei do movimento. A personalidade é uma forma de movimento. O ser humano, em funcionamento normal, está sempre avançando. Há uma contínua luta pela existência e essa luta demonstra que há dentro de cada indíviduo algo que o impulsiona a manter-se em luta: sua necessidade de ação.

Uma carta de meu ranzinza colega de trabalho, o Augusto Pombal, como bom e típico português, avisa praticamente em cima do evento, porém vamos desculpá-lo parece que a viagem até aqui não foi planejada bem vejamos o que diz a carta:

21 de Março de 2004.
Caro Aziz Tel'Ab Hussein,

Estou reportando-lhe que chegarei ao Aeroporto Internacional às 22h de vinte e cinco de março de 2004, quinta-feira, espero contar com vossa ajuda tanto para conhecer tão vasto, e maravilhoso local, Cairo, mas também avaliar a autenticidade de alguns pergaminhos que carrego.

Muito obrigado,

Professor Doutor Augusto Pombal.

Sempre bonachão meu caro colega bem irei até o aeroporto e virei em que posso ser útil, com meus olhos cansados, ouvidos moucos, pele de crocodilo, o olfato já em estado precário, mas com um paladar sem igual, a experiência revela-se muito produtiva nessas horas.

Que dia, o cansaço toma conta do meu corpo, mas tenho que continuar não posso entregar-me, não agora, em que meu amigo depende de mim. Como estará aquele meu caro colega, tenho tanto trabalho e ele traz-me mais, bem parece que são importantes, mas não mais importantes que os pergaminhos que agora estudo os Manuscritos de Nag Hammadi, contudo não vou tirar-lhe a excitação do achado.

Esse trânsito maluco onde iremos parar? Acredito que existam mais carros do que pessoas atualmente, a questão é como iremos enfrentar este problema, estou já na terceira volta no aeroporto e não consegui entrar em nenhum estacionamento... O que aquele homem está apontando, será que quer... Não ele está apontando uma miragem, não é possível uma vaga, um oásis, não consigo acreditar. Muito obrigado, meu caro pode deixar que na volta irei recompensá-lo. Ainda bem que essa vaga surgiu, estou quase atrasado chegarei no horário sem nenhuma folga, espero que o vôo tenha atrasado, e não adiantado:

— Por favor, vôo 357 da TAP, já chegou. – perguntei para a moça do balcão de informações.

— Deixe-me ver, o vôo está com um atraso de vinte minutos, o senhor pode aguardar no portão dois de desembarque. – aliviado pude esperá-lo com um pouco de folga, ele estaria enjoado, com raiva que suas bagagens se extraviariam e o pior seria reclamar que ficou esperando-me por muito tempo, preferia eu esperar a ouvi-lo reclamar.

Quanto tempo havia se passado desde sua última visita, já não conseguia recordar, tantas realizações, mas o tempo parecia transcorrer mais rápido do que outrora, súbito ali estava meu antigo colega, com um personagem singular, uma figura parecida com um jesuíta, caminhei em sua direção:

— Como vai, meu caro não mudas hein? Sempre aventureiro e agora carrega consigo discípulos, tornou-se guru espiritual por acaso, hein meu velho. – emocionado ele narrou-me suas aventuras e caminhamos para o carro...

Chegando ao carro abri o porta-malas e acondicionei cuidadosamente a bagagem de meu estimado colega e depois os acomodei no carro, lembrei-me do flanelinha salvador e entreguei-lhe o dinheiro, ele muito feliz agradeceu-me, sua felicidade equiparava-se a minha, dei-me por satisfeito rumamos para o hotel Pirâmides do Egito, um belo e sugestivo nome de criação portuguesa...

Teresa a dona do hotel estava nos esperando abraçou-nos e com sua típica fala portuguesa encaminhou-nos para o melhor quarto do hotel, segundo ela, chegamos ao quarto trinta e dois, uma antiga porta com uma fechadura mais antiga, Jorge o empregado estava com a chave e com as malas por um momento ele atrapalhou-se, mas recuperando a compostura, abriu e revelou-nos um quarto muito bem limpo com duas camas de solteiro, um guarda-roupa com cabides, um lavabo e um banheiro com chuveiro (um luxo, pois os outros hóspedes utilizavam-se de banheiros externos para tomar banho).
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Despedi-me dos dois prometendo regressar no dia seguinte às oito e meia para o café, mais um abraço de Teresa, deposito algumas moedas na mão de Jorge e parto feliz para a casa com a sensação de missão cumprida, tinha insistido com meu colega para hospedar-se em meu humilde lar, contudo ele dissera que já incomodaria-me muito e não era justo que ficasse também em minha residência, Pombal e suas manias...

— Dormiu bem. - pergunto para meu estimado colega.

— Esplendorosamente meu caro Aziz, pois as poltronas do avião eram muito desconfortáveis, no entanto a cama e os travesseiros do hotel são divinos, o novo companheiro do professor concorda meneando a cabeça, após o café meu amigo muito excitado mostra-me os pergaminhos, realmente, parecem muito antigos e reveladores de um mistério inimaginável, peço-lhes que me acompanhem ao meu laboratório para melhor inspecionarmos aquele material...

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